Confira o lindo conto do aluno Milton Teixeira, 4ª Etapa C, EJA (Educação de Jovens e Adultos).
O portão
Para quem ainda não sabe: -Eu sou artista plástico. E às
vezes saio por aí com minha máquina fotográfica registrando motivos para
pintar. Em um desses dias, me encontrei em Ibiúna, uma cidadezinha a cem
quilômetros da capital de São Paulo. Mais apropriado dizer, em um bairro ou
vilarejo dessa cidade, o bairro do colégio. Estando lá. Logo de manhã, ao galo
cantando sai para explorar as proximidades da casa que me hospedava.
Segui por uma estradinha de sitio, dessas que passam mais
cavalos que trator, porque carros da cidade é que não passam mesmo. Andando a
pé, avistava-se ao longo da estradinha acidentada, cinco araucárias antes da
curva. A vista ia até o bambuzal e as árvores que formavam túnel de passagem na
vegetação. Caminhei na sombra, até a curva onde tinha a touceira de bambu.
Ao contornar uma árvore frondosa, um clarão por falta de
copas de folhagem, desviava o caminho para uma trilha sulcada em rastro de
carroças. Um portão, desses de fazenda, prendeu minha atenção; FOTOGRAFEI.
Caminhava por uma das bandas da trilha, quando o som de água batendo em pedras,
desmascarou, a pontinha coberta de terra e vegetação rala. Andei mais devagar
ainda ao notar a fragilidade da ponte. Cheguei bem próximo do que nem era na
verdade um portão. Suas bandas, já que eram duas, estavam abandonadas há muito
tempo. Uma banda estava encostada no barranco baixo, e a outra caída sobre o
mato.
Por um momento as quis funcionando. “Vai que tinha gado bravo”.
Olhando o ex: portão de frente, notava-se a madeira envelhecida e sulcada pelos
muitos anos de abandono. Talvez, estivesse ali antes de eu ter nascido, e isso
leva mais de setenta anos no mínimo.
Tínhamos algo em comum. O velho olhou pro velho. Quis ser
poeta para poetizar o portão velho. Lembrei-me, tinha voltado a estudar, para escrever melhor
contar meus contos. Não querendo me estender mais, sai dali ruminando uma
ideia:
Portão velho, não vai pra lá e nem vem pra cá.
Eu não sou mais, pai pra cá e pai pra lá.
O portão encanta um canto.
Eu sento no sofá e descanso.
Comentários
Postar um comentário